Meditação – Uma Antiga Panaceia para Nossos Desafios Atuais
Uma entrevista com Irmão Achalananda
Parte 1
Alguns meses atrás, a equipe do Blog da SRF entrevistou Irmão Achalananda, vice-presidente da Self-Realization Fellowship e monge nos ashrams de Paramahansa Yogananda por mais de sessenta e cinco anos, no Santuário do Lago (SRF Lake Shrine), em Pacific Palisades, Califórnia. Os tópicos variaram desde a situação mundial até os esforços espirituais de cada indivíduo. Embora a entrevista tenha ocorrido pouco antes da pandemia do COVID-19, as respostas de Irmão Achalananda não são menos relevantes hoje, e esperamos que lhes transmitam orientação e encorajamento para enfrentar os recentes desafios globais.
Entrevistador: Em sua opinião, qual o maior problema que a humanidade enfrenta nos dias de hoje?
Irmão Achalananda: É simples. O maior problema é que muitas pessoas esqueceram Deus. Elas se tornaram envolvidas demais na criação, com todas suas invenções tecnológicas e aparente liberdade.
Estamos vivendo num período muito difícil. Na verdade, Paramahansa Yogananda disse que a era em que vivemos é o período mais perigoso no ciclo da evolução planetária, desde a era material inferior até a elevada era espiritual. E assim é porque estamos alcançando poder para controlar a natureza e liberar suas grandes energias ocultas, mas não estamos progredindo espiritualmente o bastante para utilizá-las de modo apropriado. Um exemplo disso foi nossa habilidade para criar a bomba atômica – aprendemos a utilizar todo poder que existe num único átomo, e para que o empregamos? Para fazer explodir outras pessoas.
Entretanto, existe também um aspecto muito promissor nesta época em que vivemos: o maior entendimento que possuímos hoje da energia tornou possível o ressurgimento da antiga ciência de Kriya Yoga, que por séculos esteve perdida para a humanidade em geral durante a era material. Frequentemente, eu digo que a Kriya Yoga – que nos capacita a retirar a energia, e com isso também a consciência, dos sentidos e dirigi-la ao interior – é uma poderosa “tecnologia” interna que podemos utilizar para acelerar nosso progresso espiritual. O crescente interesse atual pela Kriya Yoga em todas as partes do mundo traz grande esperança que a raça humana aprenda a equilibrar o uso da ciência e tecnologia materiais com o desenvolvimento espiritual.
Há essencialmente duas coisas que todas as pessoas do mundo estão buscando: elas querem ser felizes e querem ser amadas.
E: Como um monge da SRF, o senhor tem aconselhado muitos aspirantes espirituais durante seis décadas. A partir dessa experiência, o senhor considera que os desafios enfrentados pelos buscadores atuais são muito diferentes daqueles com que se defrontaram os aspirantes de, digamos, cinquenta anos atrás?
IA: Os desafios são basicamente os mesmos – não penso que realmente se modifiquem. Há essencialmente duas coisas que todas as pessoas do mundo estão buscando: elas querem ser felizes e querem ser amadas. É simples assim! Mas a maioria das pessoas não sabe como conseguir felicidade e amor. É por isso que vemos tão pouca felicidade e amor no mundo atual.
A meditação traz um grande senso de felicidade interior e alegria. Certa vez, eu estava dando uma palestra em um pequeno grupo de meditação. Um dos devotos da SRF ali presente era da Alemanha e havia trazido dois amigos também alemães. Ele tinha explicado aos amigos que eu era um monge e depois me contou que, no caminho de volta para casa, seus amigos lhe perguntaram: “Você tem certeza que esse cara é um monge? Ele parece feliz demais para ser um monge!” Eles tinham a noção que, se você tivesse que renunciar a todos esses prazeres externos da vida, não poderia ser feliz. Mas não compreendiam que renúncia não significa abandonar todos os prazeres da vida; e, em segundo lugar, se você está meditando e obtendo resultados de sua meditação – sentindo esse grande amor ou bem-aventurança de Deus, ou mesmo alguma paz de vez em quando –, isso é muito encorajador e uma fonte de felicidade.
Todavia, alguns têm a noção que entrar em um monastério acarreta necessariamente uma vida austera. Mesmo Yogananda, quando, ainda jovem, entrou no ashram de seu guru, era tão sério e preocupado que Sri Yukteswarji lhe disse taxativamente um dia: “O que é isso? Você por acaso está num funeral? Não sabe que encontrar Deus significa o funeral de todas as tristezas? Então, por que está tão sombrio? Não leve esta vida tão a sério.” A meditação nos ajuda a fazer isso – a estar intensamente focados, mas não tão enredados no drama externo. Desse modo, torna-se muito mais fácil oferecer amor aos outros.
E: A SRF promove a meditação como o modo mais importante e efetivo de progredir espiritualmente. Qual seria sua resposta a quem lhe perguntasse: “Por que meditar?”
IA: Eu diria que eles devem meditar porque a meditação pode ajudá-los a obter algo em sua vida que não estão alcançando sem a meditação: um maior sentimento de paz, mais compreensão de si mesmos e também de outras pessoas, e maior entendimento de como a criação opera e qual é o propósito da vida. E, se não possuímos esse entendimento, usualmente cometemos muitos erros. Qual é o propósito da vida? O propósito da vida é conhecer Deus. Mas quantas pessoas realmente compreendem isso? Provavelmente, muito poucas. Entretanto, Yogananda nos diz que esse é o verdadeiro propósito da vida, pois, como almas, temos por fim que voltar para o Espírito, de onde nos originamos. Podemos fazê-lo rápida ou lentamente – isso depende de nós. Paramahansaji enfatiza que a meditação é o caminho mais rápido para conhecer Deus. Outra razão muito prática para meditar: qualquer que seja seu trabalho, a meditação o ajudará a desempenhá-lo melhor. Se estiver calmo, se não permitir que suas emoções se descontrolem, você poderá trabalhar melhor. As coisas boas que advêm da meditação e do esforço para progredir espiritualmente também o tornam mais eficaz no plano da atividade material.
(Esta é a primeira de uma série de três partes)
